A
chegada da primeira república na Bahia demarcou uma era de
“infortúnios” para a sociedade e, principalmente, para as elites. A
Bahia para estes últimos deveria ser conhecida como “A Rainha do Norte” e
“Atenas Brasileira”, duas referências a tradição da classe dominante
baiana nos tempos coloniais e, sobretudo, imperiais. Com tradição ou sem
tradição, o fato era que as elites baianas não gozavam do poder
econômico e social de que foram conhecidos nos tempos da escravidão e do
açúcar. Se no Império os políticos baianos tinham considerável poder
junto ao governo nacional, na república esse poder havia sido relegado,
sobretudo porque os estados de São Paulo e de Minas Gerais tornaram-se
os grande financiadores da riqueza brasileira com a produção do café e
do leite.
Nesse contexto, como podemos inserir a elite catuense? E a nossa comunidade como se inseria nesse momento? Bem, documentos da época nos mostram que o empobrecimento que assolou a sociedade baiana, refletiu sobre a comunidade de Catu.
Nesse contexto, como podemos inserir a elite catuense? E a nossa comunidade como se inseria nesse momento? Bem, documentos da época nos mostram que o empobrecimento que assolou a sociedade baiana, refletiu sobre a comunidade de Catu.
No século XIX, Catu era uma das grandes promessas da economia de cana-de-açúcar baiana, contudo, as circunstancias internacionais, a falta de modernização da produção canavieira e a crise do escravismo impossibilitaram a não confirmação desta promessa.
Na República, Catu não passava de um lugarejo sustentado apenas pela produção de agricultura de subsistência, onde se destacava rapidamente a cultura do fumo. Mas os barões e coronéis e suas famílias continuavam a expor uma grandeza que não mais existia, juntamente com um espírito saudosista que denunciava a situação periclitante em que se encontravam. Observe um artigo publicado em 1910, pela Revista Brasileira, que destaca uma festa a fantasia, ocorrida em 26 de março daquele ano, no “palacete” do Barão de São Miguel um dia antes da páscoa:
Aleluia no Catu
Não passou despercebida, no seio da sociedade catuense, a data 26 de março findo, no memorável sábado de Aleluia.
A família catuense entendeu de divertir-se e divertir-se a valer.
Naquela noite ali queimando um robusto (Judas) Iscariotes, por entre custosos e belos fogos de artifício, precedendo à queima, um passeio a cavalo pelas ruas da Vila e um longo testamento, em versos, no qual foram todos e um longo muito aquinhoados (sic).
A assistência de espectadores, no largo da matriz e sob os clarões luminosos de esplendido luar, foi extra-ordinária!
As 10 ½ da noite, mais ou menos, realizou-se uma festa deliciosa no palacete do Sr. Barão de São Miguel – um animado baile a fantasia, o maior sucesso, gênero, que registra hoje crônica da vida catuense. A assistência seleta e numerosa, deixou antever, desde logo, o esplendor do baile que foi sempre muito animado até amanhã pela manhã de 27.
Desde a elegância das roupas a verve dos fantasiados, tudo denotava o fino gosto estético e o sentimento de arte eram as suas notas características.
O vasto palacete e sua sala principais, lindamente enfeitados por uma comissão de gentis senhoritas, repletos de luz, transbordando alegrias e entusiasmo, tinham um aspecto garrido.
Fantasias em trajes modestos, porém elegantes e graciosos, costumes caricatos, máscaras grotescas, outras fisionomias inocentes e ainda outras extravagantes, enchiam o vasto salão nobre e um espírito leve e sutil pairava naquele ambiente que os acordes do piano e de outros instrumentos musicais enchiam de ardentes alegrias.
Pastorinhas e príncipes, pierrôs e dominós, turcas e ciganas, bebês inocentissímos, tipos diversos, maneis de chapéu de fueiro, enfeitados e alegres como quem vai para os descantes e baleáricos de festa de aldeia, agitando-se todos no voltear das valsas ou em passeios no passo da consolação, deixaram-nos uma impressão que predomina ainda no nosso espírito.
Foi uma bela noite de prazer que nos fez deslembrar as tristezas do nosso peregrinar e o mourejar de todo o santo na cavação da vida.
Fonte: Revista do Brasil. Ano IV, nº. 20, Salvador-BA, 15 de abril de 1910. (Autor desconhecido)
A
festa retratada pelo cronista desconhecido se deu na vila do Catu, após
o findar de uma década muito negativa em termos de economia não só
nesta cidade, como em toda a Bahia. De acordo com historiadores como
Consuelo Novais Sampaio, nesses anos o estado foi marcado por sucessivas
secas que deixava mais difícil a já complicada economia da região.
Talvez por isso, o cronista desconhecido – pelo que se infere
provavelmente um catuense correspondente da revista –, finalize o texto
de maneira tão melancólica. O último parágrafo denota as possíveis
dificuldades que se traduziriam em “tristezas do nosso peregrinar” e no
“mourejar de todo o santo na cavação da vida”.
Repare o leitor que a leitura do texto nos leva a construção de imagens de uma festa glamorosa, em principio, mas que ao passar das linhas revela a simplicidade nas roupas dos “maneis dos chapéus de fueiros”. O que nos choca também é a descrição do “palacete” do Barão de São Miguel. Grande prédio com um salão onde teriam ficado vários instrumentos musicais, no qual o cronista destaca o piano, pela sua sofisticação. A descrição do salão do barão lembra aqueles da Salvador Imperial descrito pelo historiador Wanderley Pinho, nos tempos de “glória da Bahia”. Contudo, certamente ele só traria lembranças...
Repare o leitor que a leitura do texto nos leva a construção de imagens de uma festa glamorosa, em principio, mas que ao passar das linhas revela a simplicidade nas roupas dos “maneis dos chapéus de fueiros”. O que nos choca também é a descrição do “palacete” do Barão de São Miguel. Grande prédio com um salão onde teriam ficado vários instrumentos musicais, no qual o cronista destaca o piano, pela sua sofisticação. A descrição do salão do barão lembra aqueles da Salvador Imperial descrito pelo historiador Wanderley Pinho, nos tempos de “glória da Bahia”. Contudo, certamente ele só traria lembranças...
Foto:
Paulino de Araújo Góis, agraciado com o título ( Dec 10.08.1888 ) de
Barão de São Miguel. Membro de importante e tradicional família de
origem portuguesa, estabelecida na Bahia. Nasceu em 22.09.1840 em
Catu-BA e lá também faleceu a 18.02.1932. Casado a primeira vez, a
22.10.1859, com sua prima Joana Delfina de Araújo Góis, nascida em Catu e
falecida a 02.04.1869, antes portanto da concessão do título ao
marido.Casou-se pela segunda vez com sua prima Carolina dos Reis de
Araújo Góis, nascida a 29.07.1860 em Catu-BA e lá também: falecida em
05.11.1936, Baronesa de S. Miguel. (Fonte:
http://www.sfreinobreza.com/Nobs3.htm, ancesso em 14/03, ás 15:10h)
Créditos: Tiago Amorim
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