Fonte: O Blog de História do IF-Baiano, Campus Catu.
No
século XIX registrou-se o desenvolvimento e o apogeu da cultura
açucareira em Santana de Catu. Em 1856 o vigário local Antonio Torres
chegou a registrar 116 propriedades das quais pelos menos um terço
pudesse ser considerada como engenho.
Embora ainda não existam números precisos sobre essa produção, sabe-se, por exemplo, que no seu ápice o engenho Api[1], localizado perto do atual distrito de São Miguel, chegou a ter mais de 100 escravos, quando a média de um grande engenho da região era de cinqüenta e sete.
Durante mais trezentos anos de existência a população catuense dependeu inteiramente da economia rural. Até os finais do século XIX, por exemplo, dois produtos dominavam a nossa produção: a cana-de-açúcar e o fumo. Os dois destinados à exportação. Essa atividade econômica era praticada a base de mão-de-obra escrava e acabou após a abolição da escravatura e a perda do Brasil da concorrência desses produtos para outros países, sobretudo as Antilhas Britânicas.
Um contexto especial fez com que o período compreendido entre 1810 e 1870, fosse de grande prosperidade para o Recôncavo. No exterior o preço do açúcar se manteve elevado devido às lutas napoleônicas, a desorganização da produção das colônias espanholas e inglesas das Antilhas e a ampliação do mercado europeu, um dos primeiros efeitos da Revolução industrial. Segundo nos conta Anna Ribeiro de Araújo Góes, o século XIX, foi um momento de fartura para a elite açucareira catuense, o crescimento do número de engenhos dessa atividade agrícola nessa região atesta que realmente houve um desenvolvimento econômico sobre essas terras que ela jamais havia visto. Em contraposição ao crescimento da lavoura da cana, a maior parte da mata atlântica original que existia foi derrubada pata dar lugar aos canaviais, de modo que o que vemos hoje do que restou, são matas remanescentes e não originais.
Não se deve esquecer que a cultura do açúcar não era única fonte de renda da região nesse momento, havia também o plantio do fumo, da mandioca, do café e de outros gêneros alimentícios que sustentavam a população da região e que, mais tarde seria exportada para a capital, Salvador. Mesmo assim, como já foi dito, duas culturas tradicionais do Brasil império para exportação – cana e fumo – tiveram em terras catuenses terreno fértil e população escrava era tamanha que assegurava a produção.
A população escravizada obrigada a trabalhar nas lavouras catuenses durante todo o século XIX, era de quantidade considerável para os padrões baianos, conforme publicação de um jornal de Alagoinhas intitulado O Alagoinhense, datado de 17 de fevereiro de 1887:
Embora ainda não existam números precisos sobre essa produção, sabe-se, por exemplo, que no seu ápice o engenho Api[1], localizado perto do atual distrito de São Miguel, chegou a ter mais de 100 escravos, quando a média de um grande engenho da região era de cinqüenta e sete.
Durante mais trezentos anos de existência a população catuense dependeu inteiramente da economia rural. Até os finais do século XIX, por exemplo, dois produtos dominavam a nossa produção: a cana-de-açúcar e o fumo. Os dois destinados à exportação. Essa atividade econômica era praticada a base de mão-de-obra escrava e acabou após a abolição da escravatura e a perda do Brasil da concorrência desses produtos para outros países, sobretudo as Antilhas Britânicas.
Um contexto especial fez com que o período compreendido entre 1810 e 1870, fosse de grande prosperidade para o Recôncavo. No exterior o preço do açúcar se manteve elevado devido às lutas napoleônicas, a desorganização da produção das colônias espanholas e inglesas das Antilhas e a ampliação do mercado europeu, um dos primeiros efeitos da Revolução industrial. Segundo nos conta Anna Ribeiro de Araújo Góes, o século XIX, foi um momento de fartura para a elite açucareira catuense, o crescimento do número de engenhos dessa atividade agrícola nessa região atesta que realmente houve um desenvolvimento econômico sobre essas terras que ela jamais havia visto. Em contraposição ao crescimento da lavoura da cana, a maior parte da mata atlântica original que existia foi derrubada pata dar lugar aos canaviais, de modo que o que vemos hoje do que restou, são matas remanescentes e não originais.
Não se deve esquecer que a cultura do açúcar não era única fonte de renda da região nesse momento, havia também o plantio do fumo, da mandioca, do café e de outros gêneros alimentícios que sustentavam a população da região e que, mais tarde seria exportada para a capital, Salvador. Mesmo assim, como já foi dito, duas culturas tradicionais do Brasil império para exportação – cana e fumo – tiveram em terras catuenses terreno fértil e população escrava era tamanha que assegurava a produção.
A população escravizada obrigada a trabalhar nas lavouras catuenses durante todo o século XIX, era de quantidade considerável para os padrões baianos, conforme publicação de um jornal de Alagoinhas intitulado O Alagoinhense, datado de 17 de fevereiro de 1887:
NOVA MATRICULA
Foram rematriculados no município de Alagoinhas, 1.945 escravizados e arrolados 18 sexagenários.
No município da Catu 1.300 escravizados, e 32 sexagenários.
No município do Inhambupe 1322 escravizados, e arrolados
10 sexagenários.
No município de Santo Amaro 5.822 escravizados e arrolados 17 sexagenários.
No da capital, 3.172 escravizados e arrolados 87 sexagenários. [2]
Foram rematriculados no município de Alagoinhas, 1.945 escravizados e arrolados 18 sexagenários.
No município da Catu 1.300 escravizados, e 32 sexagenários.
No município do Inhambupe 1322 escravizados, e arrolados
10 sexagenários.
No município de Santo Amaro 5.822 escravizados e arrolados 17 sexagenários.
No da capital, 3.172 escravizados e arrolados 87 sexagenários. [2]
Em
1887 muitos dos escravos do Nordeste já haviam migrado para o
Centro-Sul, em virtude do tráfico interprovincial ou já haviam ganho a
liberdade, visto que nesse momento o processo abolicionista esteve em
franca expansão. Mesmo assim atualmente é um consenso entre os
historiadores destacar a importância da mão-de-obra escrava no
Recôncavo, mesmo as vésperas da abolição. Se compararmos os plantéis de
Salvador e Catu, veremos que o município detém um terço da população da
capital da província.
Para uma pequena cidade que havia sido emancipada a pouco menos vinte anos a sua população escrava era bastante considerável. Um pouco antes do 13 de maio de 1888 Catu era um dos
municípios baianos que mais utilizava esse tipo de trabalho, como se pode desprender do destaque dado a este município na notícia de O Alagoinhense citada anteriormente. Se a comparação for feita com cidades de maior envergadura na época como Inhambupe e Alagoinhas, a conclusão também será a mesma: a cidade de Catu tinha uma das maiores populações escravas, um ano antes da Lei Áurea ser decretada. É óbvio que a população escrava catuense já vinha diminuindo há algumas décadas, pois essa tendência também se aplicava ao Brasil, por causa das leis abolicionistas. Em 1816, por exemplo, Catu [ainda na condição de Vila]
detinha cerca de 1.420 escravos, ou seja, sua população era maior em 1816[3], do que era em 1887. Isso se justifica pelo fato de que no início do século XIX, como já foi dito, Catu vivia a franca expansão da atividade açucareira.
A partir de 1873, com a perda de duas safras em conseqüência de pragas que atacaram os canaviais, a perda de concorrência no mercado internacional, as secas e outros fatores o Recôncavo atravessou um período de crise econômica, sobretudo para a economia açucareira[4]. Esse momento difícil foi agravado pelo processo de abolição da escravatura que culminou no fim do trabalho escravo [1888]. Nem ao menos a implantação dos engenhos centrais – como o localizado no atual município de Pojuca – conseguiu reerguer a atividade açucareira na região.
NOTAS:
[1] O Engenho Api, localizado próximo ao atual distrito de Bela Flor em Catu-Ba, pertenceu a Mathias de Araújo Góes e foi herdado pelos seus descendentes, os Clemente Mariani, estando em seu poder até os dias atuais.
[2] O Alagoinhense, “Nova Matrícula”, 17 de fevereiro de 1887. Disponível no APEB, seção Jornais Raros.
[3] SCHARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. P. 357.
[4] Existe um lamento constante na obra literária da escritora catuense Anna Ribeiro acerca dos “males” que atacaram a lavoura. A esse respeito ver OLIVEIRA. Marcelo Souza. Uma Senhora de Engenho no Mundo das Letras: o declínio senhorial na obra de Anna Ribeiro. EDUNEB, Salvador, 2009.
Para uma pequena cidade que havia sido emancipada a pouco menos vinte anos a sua população escrava era bastante considerável. Um pouco antes do 13 de maio de 1888 Catu era um dos
municípios baianos que mais utilizava esse tipo de trabalho, como se pode desprender do destaque dado a este município na notícia de O Alagoinhense citada anteriormente. Se a comparação for feita com cidades de maior envergadura na época como Inhambupe e Alagoinhas, a conclusão também será a mesma: a cidade de Catu tinha uma das maiores populações escravas, um ano antes da Lei Áurea ser decretada. É óbvio que a população escrava catuense já vinha diminuindo há algumas décadas, pois essa tendência também se aplicava ao Brasil, por causa das leis abolicionistas. Em 1816, por exemplo, Catu [ainda na condição de Vila]
detinha cerca de 1.420 escravos, ou seja, sua população era maior em 1816[3], do que era em 1887. Isso se justifica pelo fato de que no início do século XIX, como já foi dito, Catu vivia a franca expansão da atividade açucareira.
A partir de 1873, com a perda de duas safras em conseqüência de pragas que atacaram os canaviais, a perda de concorrência no mercado internacional, as secas e outros fatores o Recôncavo atravessou um período de crise econômica, sobretudo para a economia açucareira[4]. Esse momento difícil foi agravado pelo processo de abolição da escravatura que culminou no fim do trabalho escravo [1888]. Nem ao menos a implantação dos engenhos centrais – como o localizado no atual município de Pojuca – conseguiu reerguer a atividade açucareira na região.
NOTAS:
[1] O Engenho Api, localizado próximo ao atual distrito de Bela Flor em Catu-Ba, pertenceu a Mathias de Araújo Góes e foi herdado pelos seus descendentes, os Clemente Mariani, estando em seu poder até os dias atuais.
[2] O Alagoinhense, “Nova Matrícula”, 17 de fevereiro de 1887. Disponível no APEB, seção Jornais Raros.
[3] SCHARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. P. 357.
[4] Existe um lamento constante na obra literária da escritora catuense Anna Ribeiro acerca dos “males” que atacaram a lavoura. A esse respeito ver OLIVEIRA. Marcelo Souza. Uma Senhora de Engenho no Mundo das Letras: o declínio senhorial na obra de Anna Ribeiro. EDUNEB, Salvador, 2009.
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